Autor
Riley Sager
Classificação
16+
Editora
Intrínseca
Páginas
400
Publicação
2024
Em 1929, um crime bárbaro chocou o estado do Maine: a abastada família Hope foi brutalmente assassinada, restando apenas a filha mais velha, Lenora, que acabou se tornando a principal suspeita. Apesar de todos acreditarem que a garota foi a responsável pelo massacre, a polícia jamais encontrou provas disso. Daquele dia em diante, Lenora nunca mais falou sobre aquela noite e permaneceu isolada em Hope’s End, a famosa mansão onde o crime ocorreu.
Décadas depois, quando a única lembrança do crime é apenas uma perturbadora cantiga infantil, Kit McDeere é designada como cuidadora de Lenora Hope, após a fuga da antiga enfermeira. Aos setenta anos e confinada a uma cadeira de rodas, Lenora perdeu a capacidade de falar, devido a uma série de derrames, e só consegue se comunicar com Kit datilografando frases em uma velha máquina de escrever. Até que, uma noite, Lenora escreve uma frase inesperada:
eu quero te contar tudo
À medida que Kit ajuda Lenora a escrever sobre os eventos que levaram ao massacre da família Hope, fica claro que a história é mais complexa do que as pessoas imaginam. Mas quando a cuidadora descobre os detalhes que provocaram a fuga da antiga enfermeira, ela começa a suspeitar que talvez Lenora não esteja dizendo toda a verdade ― e que a senhora aparentemente inofensiva sob seus cuidados pode ser muito mais perigosa do que ela pensava.
RESENHA
O Massacre da Família Hope parte de um acontecimento brutal em 1929, quando a rica família Hope é assassinada de forma impiedosa, restando apenas a filha mais velha, Lenora imediatamente vista como culpada, apesar da ausência total de provas. Esse ponto de partida já revela um dos maiores acertos do livro: a construção de um mistério antigo, envolto em silêncio, culpa e décadas de especulação. Há algo de profundamente perturbador em uma acusação que nunca pôde ser confirmada, mas que marcou a vida de uma mulher inteira.
Décadas mais tarde, quando Kit McDeere é enviada para trabalhar como cuidadora de Lenora na mansão Hope’s End, a história ganha novos contornos. Isolada, incapacitada de falar e presa a uma cadeira de rodas, Lenora só consegue se comunicar através de frases datilografadas e é justamente isso que acende a fagulha da narrativa. A frase “eu quero te contar tudo” funciona como um convite para o leitor mergulhar nesse passado sombrio, e aqui o suspense psicológico se torna realmente envolvente. Ponto positivo: o livro cria um clima de tensão silenciosa, quase claustrofóbica, que combina perfeitamente com a solidão da mansão e com os segredos enterrados ali.
À medida que Kit ajuda Lenora a reconstruir os eventos que antecederam o massacre, o leitor começa a perceber que nada é tão simples quanto parece. A investigação se desenrola pelo viés emocional, pelas memórias nebulosas e pela crescente dúvida de Kit dúvidas essas que são um dos elementos mais interessantes do enredo. Outro ponto forte é a habilidade da autora em brincar com a confiabilidade das narradoras, mantendo o público constantemente alerta.
Por outro lado, há momentos em que o ritmo do livro pode parecer lento, especialmente nas descrições muito extensas da rotina na mansão e nos diálogos indiretos através da máquina de escrever. Esses trechos, embora contribuam para a atmosfera gótica e tensa, podem cansar leitores que preferem um suspense mais ágil. Algumas reviravoltas, embora eficazes, chegam de forma abrupta, o que pode dar a sensação de que certas explicações foram aceleradas para encaixar no desfecho.
Ainda assim, O Massacre da Família Hope se destaca por entregar uma história cheia de camadas, onde o passado e o presente se entrelaçam para revelar verdades desconfortáveis. A relação entre Kit e Lenora é marcada por empatia e por desconfiança , é construída de maneira convincente, fazendo com que até o leitor se pergunte: afinal, quem está dizendo a verdade?
O livro oferece uma reflexão sombria sobre trauma, reputação e o peso das versões que contamos sobre nós mesmos. Com atmosfera densa, mistério bem sustentado e personagens ambíguos, é um livro que prende, instiga e deixa no ar aquela sensação inquieta de que nem tudo foi realmente dito.



