Autor
Cláudia Gomes
Classificação
12+
Editora
Beija-Flor
Páginas
206
Publicação
2025
Malinche é uma adolescente carinhosa e sensível que, apesar de ter uma relação difícil com sua mãe e a responsabilidade de cuidar do irmão autista, encontra alegria na companhia da avó e no amor do pai. Sua vida muda drasticamente quando, após um primeiro beijo com Raul, é obrigada a se mudar para outra cidade. Lá, ela enfrenta diversas adversidades, desde assédios e traições até a dura realidade de pessoas em situação de vulnerabilidade, experimentando tanto conforto quanto extrema pobreza. A dor de saudade da família se mistura ao sofrimento ao ver o abandono e a falta de oportunidades para os menos favorecidos.
A garota se afasta cada vez mais de sua família e se muda para São Paulo, onde enfrenta o tráfico de mulheres e decide lutar contra esses crimes. Morando em um quarto de um casarão pertencente ao dono de uma fábrica de papel, ela encontra conforto na amizade com dona Ricota, uma idosa de origem escravizada. Apesar de se sentir perdida na nova cidade, Malinche reflete sobre como retornar e ajudar sua cidade natal. Um beijo recebido na juventude a levou a conhecer as duras realidades da vida, mas também lhe ensinou a ver a beleza nas adversidades. Com astúcia, ela desvende o mistério do casarão e retorna a Ventosa, onde sua vida se transforma novamente ao cuidar de uma pequena Flavida, um flamboyant de flores amarelas. Agora, Malinche se pergunta se Raul ainda tem um lugar em seu coração ou se um novo amor surgiu em sua vida.
RESENHA
O livro é uma obra sensível e profunda que narra a trajetória de amadurecimento de uma jovem que, desde cedo, enfrenta desafios emocionais e sociais intensos. A protagonista, uma adolescente carinhosa e sensível, vive em um ambiente familiar marcado por conflitos e responsabilidades precoces, especialmente ao cuidar do irmão com autismo. A relação tensa com a mãe é equilibrada pelo carinho da avó e o amor do pai, formando a base afetiva de uma jovem em busca de identidade e pertencimento.
A narrativa ganha força com a mudança repentina de Malinche para outra cidade após um primeiro beijo com Raul — um símbolo de transição entre a infância e a vida adulta. Essa mudança representa o início de um processo de descoberta doloroso, onde ela enfrenta o assédio, a traição e a dura realidade da desigualdade social. Malinche vivencia o contraste entre conforto e pobreza, e essa experiência aguça sua empatia pelos que vivem à margem da sociedade.
Em São Paulo, a protagonista se depara com um dos maiores desafios de sua vida: o enfrentamento ao tráfico de mulheres. Ao se instalar no quarto de um antigo casarão e estreitar laços com dona Ricota, uma mulher idosa de origem escravizada, Malinche encontra um refúgio afetivo e um novo olhar sobre a história e as injustiças sociais. Dona Ricota é uma figura que representa ancestralidade, resistência e acolhimento, elementos que ajudam a protagonista a se fortalecer emocionalmente.
A jornada de Malinche é marcada por transformações internas e externas. A descoberta de um mistério no casarão e o reencontro com sua cidade natal, Ventosa, trazem novos sentidos para sua existência. O cuidado com uma pequena árvore chamada Flavida simboliza o renascimento da protagonista, agora mais consciente de seu papel no mundo e de sua força interior.
A obra nos convida a refletir sobre temas como família, abandono, desigualdade, tráfico humano e superação. O beijo que inicia sua jornada é também o ponto de partida para uma consciência mais aguçada da complexidade da vida — suas dores, mas também sua beleza. O final deixa uma pergunta no ar: o amor de Raul ainda vive ou um novo sentimento floresceu no coração de Malinche?
Com uma escrita envolvente e poética, Malinche é uma história de coragem, crescimento e esperança, que mostra que mesmo nas adversidades mais duras, é possível florescer.