Autor
Rose Wilding
Classificação
18+
Editora
Record
Páginas
350
Publicação
2023
Sete mulheres estão reunidas em um quarto de hotel; no centro do cômodo, a cabeça de um homem. Todas tinham motivos para desejar o fim de Jamie Spellman. Todas juram que não o mataram, mas nenhuma delas acredita nisso. A questão é que, para se protegerem, elas precisam descobrir quem foi.
A ex, que afoga na bebida seu segredo mais sombrio enquanto a mulher que ama se distancia cada vez mais?
A esposa, vivendo seu casamento de conto de fadas numa casa no meio de um bosque tão denso que um grito morre antes de chegar aos ouvidos de alguém?
A viúva, rezando por um passado no qual não sabe mais se pode confiar?
A adolescente, cujo crush “perfeito” a aprisionou num futuro nebuloso?
A figura materna, dividida pelo embate natureza versus criação e oprimida pelo peso da própria culpa?
A amiga, forçada a sempre tomar partido, até sentir o gosto amargo de tomar o partido errado?
Ou a jornalista, que as reuniu ― mas subestimou até onde uma mulher é capaz de ir para continuar acreditando na história que lhe foi contada?
Conforme a investigação avança, as conexões entre elas convergem, seus segredos são expostos, enquanto alternamos nossas suspeitas, devorando as páginas do livro até deparar com a revelação surpreendente das verdadeiras circunstâncias da morte de Jamie Spellman, um homem que controlou todas as narrativas ― até um segundo antes do fim.
RESENHA
Livrai-nos do Mal é daqueles thrillers que começam com uma cena tão inquietante que a gente precisa reler só para ter certeza de que entendeu direito: sete mulheres, um quarto de hotel e a cabeça de Jamie Spellman no centro do cômodo. Nada de corpos inteiros, nada de explicações claras apenas silêncio, choque e uma pergunta que paira no ar: afinal, qual delas apertou o gatilho final?
A trama se constrói a partir dessa tensão inicial, e o grande mérito do livro está em como a autora nos conduz pelas histórias individuais dessas mulheres. Cada uma guarda um segredo, um trauma, uma ferida que Jamie abriu de formas diferentes. E, conforme vamos entrando na vida delas, percebemos que todas têm motivos reais para querer vê-lo morto o tipo de motivo que faz qualquer um oscilar entre compaixão e suspeita.
A ex, que se anestesia com álcool para fugir de um passado que nunca conseguiu enterrar. A esposa, isolada num casamento que parece perfeito demais para ser real. A viúva, perdida numa fé que já não reconhece. A adolescente, que confunde atenção com afeto e encontra no “príncipe encantado” a própria prisão. A amiga que sempre foi obrigada a escolher lados, mesmo quando nenhum deles parecia justo. A figura materna carregando a culpa do que criou ou deixou de criar. E, por fim, a jornalista, talvez a peça mais enigmática desse quebra-cabeça, porque conhece todas as versões, mas insiste em acreditar na única que faz sentido para ela.
O livro acerta em cheio ao construir esse emaranhado de versões, memórias e mentiras. Em alguns momentos, parece que estamos em um círculo de confiança fraturado, sem saber quem está realmente dizendo a verdade. A autora nos provoca o tempo inteiro: você acredita nessas mulheres? Ou está, sem perceber, repetindo o mesmo olhar julgador que Jamie lançava sobre elas?
Conforme a investigação avança, é impossível não sentir o peso emocional que cada personagem carrega. O livro não é apenas um whodunit; é um mergulho no impacto psicológico do abuso, do controle e das narrativas manipuladas por um homem que sempre soube como torcer a realidade ao seu favor até o último segundo.
Quando a revelação final chega, não é apenas surpreendente. É amarga, incômoda e perfeitamente coerente com tudo que foi construído. A sensação é de fechar o livro e ficar ali, alguns minutos, digerindo não apenas o desfecho, mas o caminho até ele.
Livrai-nos do Mal é um thriller afiado, envolvente e profundamente humano. Um daqueles livros que nos lembra que toda história tem mais de um lado e que, às vezes, a verdade não é a resposta que mais importa, e sim o que cada mulher precisou sobreviver para chegar até ela.



